Por Gustavo Pietsch Vianna “Tigrão”
Na última semana do mês de abril de 2012 aconteceu na cidade do Rio de Janeiro a 1ª Semana Brasileira do Montanhismo (SBM), a qual contou com uma programação intensa, variada e recheada de atrações para todos os gostos.
Representando a Federação de Montanhismo e Escalada de Minas Gerais (FEMEMG) estavam presentes: Aloysio Carvalho, Átila Barros, Fabíola Dellaretti; Gustavo “Tigrão” Vianna, Leandro Reis, Luis “Lugoma” Monteiro, Pedro Leite, Rafael Gribel, Gustavo “Xaxá” Carrozino e César “Cezinha” Vilas Boas (Pouso Alegre).
A SBM começou com um Curso de Acesso e Conservação para ativistas em Acesso às Montanhas, promovido pela instituição Acesso PanAm, a qual tem a Kika Bradford como coordenadora no Brasil. Palestras diversificadas mostraram nuances do processo de negocição de acesso à áreas publicas, principalmente Unidades de Conservação e áreas particulares. Foram abordados temas como uso de ferramentas tecnológicas, como Google Maps, ferramentas de SIG, entre outras, a importância do Lobby, manejo de trilhas, planos de manejo e principalmente estudos de caso com situações bastante diferentes. Exemplos de áreas em todo o continente americano foram apresentados e serviram muito bem para ilustrar o processo de negociação do acesso.
O ponto alto desse curso, eu diria, foram as apresentações do cubano Armando Menecal e do norte americano Brady Robison, ambos do ACCESS Fund, instituição norte americana ligada ao acesso e que hoje funciona como um banco capaz de emprestar dinheiro para entidades esportivas de montanhismo e escalada para aquisição de propriedades com áreas de escalada. O mecanismo aparentemente funciona muito bem nos Estados Unidos e pode ser uma saída interessante para a garantia do acesso em áreas privadas. O curso foi muito interessante e além das palestras contou com oficinas onde pudemos aplicar os conhecimentos adquiridos.
Paralelamente ao curso de acesso aconteceu também no campus da UNIRIO o 1º Encontro Científico sobre Uso e Conservação de Montanhas. Palestras e painéis apresentaram diferentes trabalhos sobre uso e conservação do meio físico e da biodiversidade das montanhas. Manejo de fauna e flora, uso de técnicas verticais para coleta de material biológico em costões rochosos, experiências de câmaras técnicas de montanhismo e escalada, geodiversidade, uso público, ecoturismo e recreação foram alguns dos temas abordados. Palestrantes vindos de vários cantos do país e do exterior enriqueceram as discussões e contribuíram para a abordagem ampla dada ao tema.
Posteriormente a esses dois eventos ocorreu o 2º Encontro de Parques de Montanha. Após a abertura conduzida pelo lendário montanhista brasileiro André Ilha, pelo representante do ICMBio, Pedro da Cunha Menezes e pelo presidente da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada, Silvério Nery, representantes de várias unidades de conservação de montanha fizeram suas apresentações. A experiência de uso publico nos parques estaduais de montanha do Rio de Janeiro balizou a continuação das discussões, visto que a cultura montanhista no estado está bastante arraigada e os órgãos gestores possuem um bom relacionamento com as entidades representativas dos montanhistas. As experiências norte americanas e argentinas apresentadas por Brady Robison e Esteban Degregori respectivamente também foram muito importantes para provar que a conciliação de conservação e uso publico é possível e necessária. Alias, uma mensagem importante passada nesse encontro foi a de que como o próprio SNUC prevê, os parques devem proporcionar a conservação e o uso publico, o qual pode ser entendido desde o simples contato com a natureza num momento de ócio, o turismo e até atividades especializadas como a escalada ou mesmo o vôo livre. O publico pode conhecer as experiências do Parque Estadual dos Três Picos (RJ), a situação atual dos parques de montanha capixabas, a experiência mineira no Parque Estadual do Sumidouro (Lapinha), do PARNA Serra dos Órgãos (RJ) e dos parques estaduais de montanha do Paraná. No segundo dia desse encontro aconteceram trabalhos em grupo bastante dinâmicos que procuraram trabalhar essa diversidade de culturas e experiências na busca de um planejamento da gestão do montanhismo e escalada para casos hipotéticos, mas que ilustraram bem as demandas normalmente encontradas.
Na sexta feira começou o 2º Congresso Brasileiro de Montanhismo e Escalada. A abertura, no alto do Morro da Urca, não podia ter sido em melhor estilo e contou com a presença mais uma vez do Silvério Nery (CBME) e dos convidados Sérgio Soares (Comandante Geral do CBMERJ) e do Secretário Estadual de Meio Ambiente e ex-ministro do meio ambiente, Carlos Minc. Em seguida assistimos à emocionante e as vezes hilária apresentação do Jim Donini que contou um pouco dos seus quarenta anos de conquistas, expedições e escaladas em diferentes partes do mundo. A palestra, que contou com tradução simultânea foi um dos pontos altos do evento e emocionou e inspirou muita gente. Em seguida um delicioso coquetel preparou a turma pra descer a pedra de bondinho, um passeio muito bonito!
O segundo dia de congresso foi composto de duas mesas e uma sessão de pôsteres. Na primeira a gestão das unidades de conservação (UC) foi a linha geral. Temas como a segurança e resgate em UC’s (Irivan Burda, COSMO), a estrutura do CBMERJ para busca e salvamento em montanhas, a visitação responsável e o direito ao risco foram trabalhados. Na segunda mesa o tema central foi o montanhismo e o turismo. Grandes personagens do montanhismo e do turismo de aventura fizeram suas considerações e mostraram que o esporte e o turismo apresentam semelhanças, diferenças e principalmente oportunidades. A mesa contou com a participação do Maurício Clauzet, Eliseu Frechou, Silvério Nery e do representante da ABETA/ABNT, Gustavo Timo.
No sábado a programação se tornou mais recreativa. Houve o lançamento do Guia de Escaladas e Mapa das Trilhas da Floresta da Tijuca, na Praia Vermelha e, na parte da tarde, o ciclo de palestras. Grandes nomes do esporte nacional (Sérgio Tartári e Alexandre Portela) e do montanhismo internacional (Colin Haley) contaram um pouco das suas experiências e motivaram a platéia presente com belas imagens e histórias emocionantes. Paralelamente ao ciclo de palestras acontecia uma previa do que seria o ponto alto da programação no final de semana. O festival de boulder no muro construído pela Adrena para a 1ª Etapa do Campeonato Brasileiro de Boulder que aconteceu no domingo e atraiu grande publico apesar da chuva.
No terceiro dia do Ciclo de Palestras também teve duas mesas: a primeira intitulada Acesso Brasil – estudos de caso e estratégias, apresentou o estado atual e as perspectivas para negociaçõesem andamento. Umdos pontos alto foi a apresentação de Gustavo Carrozino (Xaxá) da FEMEMG sobre a situação da RPPN Caraça, que levantou muitas polêmicas e discussões. Na mesa 4 o tema foi a Auto-Regulamentação e Normatização da pratica da escalada e abordou os princípios da CBME, o código de ética do montanhismo brasileiro, os programas Acesso e Adote e a certificação de guias voluntários e profissionais.
O ciclo de palestras do domingo contou com a participação do paranaense Edemilson Padilha falando sobre escaladas alpinas e Eliseu Frechou falando sobre as conquistas de Big Walls. Nas noites de sábado, domingo e segunda a galera se divertiu na praça General Tibúrcio, Praia Vermelha, assistindo filmes de montanha brasileiros e internacionais.
O Campeonato Brasileiro da Modalidade Boulder aconteceu no domingo à tarde e movimentou a Praia Vermelha. As vias montadas pelo experiente route setter André Berezoski (Belê) desafiaram atletas treinados e proporcionaram belas escaladas. O campeão da categoria “Master Masculino” foi o atleta Felipe Camargo (Picuíra), seguido por Cesar Grosso (SP) , Jean Ouriques (MG), Pedro Nicoloso (RS), Pedro Rafael (DF), Rafael Takahace (SP), Beto Ferragut (SP) e Marcelo “Babaleia” (SP). Na categoria “Master Feminino”, Thais Makino (SP) foi a grande campeã, seguida por Anna Shaw (SP), Luana Riscado (RJ), Bianca Castro (RJ), Flora Zugaib (PR) e Tatiana Caloi (SP).
Na segunda feira aconteceu a quinta e última mesa do congresso brasileiro e o tema foi a escalada de competição e culminou com a criação de um GT escalada de competição com o objetivo de aprimorar as competições no Brasil. O ciclo de palestras da segunda-feira recebeu os atletas André Berezoski e Janine Cardoso falando sobre o Brasil em campeonatos de escaladas internacionais e o escalador de alta montanha Rodrigo Rainieri com o tema Brasil no Everest.
Na praça ainda foram montados inúmeros stands com a venda de equipamentos e livros, exposições e painéis comemorativos dos cem anos do montanhismo brasileiro, comemorado em 2012, pela conquista do Dedo de Deus em 1912, marco histórico do esporte brasileiro.
O último dia do evento ficou reservado para as escaladas, afinal era 1º de maio, dia do trabalho, então é dia de escalar na abertura de temporada de montanhismo (ATM) do Rio de Janeiro. Então, bora pra rocha!
Parabéns aos organizadores!
Obrigado FEMERJ. Obrigado CBME. Obrigado cariocas pela boa acolhida!