Relato de acidente com abelhas em escalada

E dicas sobre o que se deve fazer nestes casos.

Por Gustavo Pietsch Vianna “Tigrão”

No dia 7 de junho de 2012, eu (Gustavo Vianna) e meu amigo e parceiro de escalada Marcus “Rufino” fomos até a fascinante Pedra Romana, nas proximidades de Conceição do Mato Dentro, dar continuidade aos projetos. Munidos de muita “tralha”, pretendíamos dormir num amplo e confortável platô situado a cerca de 20 metros de altura na parte mais negativa da parede que alcança facilmente os 80 metros de rocha sólida.

Rufino, “anfitrião”, pegou a ponta da corda e começou a conquista da via que daria acesso a esse platô que também podia ser alcançado por outra forma, bem mais trabalhosa. Desse platô saem outras duas vias: uma esportiva (Império Romano VIIIB 30 m) e outra artificial (Cova dos Leões 6 A2 60 m). Rapidamente ele subiu por aquela escarpa levemente negativa e com 8 chapeletas atingiu o platô que estava tomado por um cipó bastante agressivo. Ele içou as mochilas com o equipamento de pernoite e em seguida eu subi pela corda fixa limpando as agarras da linha.

Enquanto isso o Rufino, já sem cadeirinha, dava um trato no platô para que pudéssemos dormir lá. Os cipós subiam por uma fenda, a uns 10 metros acima havia uma colméia de abelhas. Menos de 5 minutos mexendo ali e elas já nos encontraram e iniciaram o ataque. Cinco, dez, cinqüenta, centenas de abelhas nos rodeavam e ferroavam sem dó. O Rufino ainda teve que vestir a cadeirinha e rapidamente montou o rapel, desceu. Esperando o Marquinho chegar ao chão e liberar a corda, ainda gritei socorro umas 3 vezes até me dar conta de que aquilo era inútil. Tinha que agir e descer! Estava chovendo forte e a corda molhada deslizava com grande facilidade pelo ATC. Caí uns metros no rapel e queimei a mão freando a queda. Chegando ao chão tivemos que adentrar a mata para escapar. Cada um levou no mínimo 50 ferroadas principalmente na cabeça, mãos e pernas. Molhados, inchados e com muito frio e dor voltamos para a casa do Sr. Benedito onde estacionamos o carro. Lá deixamos roupa seca e uma lanterna para,  já a noite, voltamos para recuperar nosso equipo e alimentos.

Voltamos para a parede e o Rufino subiu pela corda fixa usando cordeletes e desceu com as duas mochilas. Eu passava muito mal nessa hora. Vomitei algumas vezes e sem comer praticamente nada fomos dormir próximo dali mesmo. Cada um tomou dois comprimidos de Fenergan (anti-histamínico) e fomos dormir.

No dia seguinte estávamos um pouco melhores, mas uma sensação de ressaca ainda nos abatia, ai o jeito foi voltamos mais cedo para Belo Horizonte.

O risco foi enorme. Além dos efeitos do veneno, estivemos sujeitos à montagem incorreta do equipamento de rapel ou mesmo a uma queda acidental do platô tentando escapar das abelhas. Foram momentos de tensão que não recomendo a ninguém!

Dicas sobre o que se deve fazer nestes casos:

  • Não dê tapas nas abelhas. Ao serem esmagadas elas liberam feromônios de alarme que incitam as companheiras para o ataque.
  • Evite fazer movimentos bruscos.
  • Procure se esconder em meio à vegetação mais alta ou deitar-se depois de se afastar suficientemente.
  • Dirija-se a um local mais frequentado ou com alguma estrutura onde possa ser acudido caso haja reações mais graves às ferroadas.
  • Retire o mais rápido possível os ferrões da pele da pessoa atingida usando uma lâmina. Evite puxar os ferrões com os dedos e assim espremer o restante do veneno que permanece na glândula.
  • Procure monitorar a evolução dos sintomas nas vítimas de ataques de abelhas. Dor e inchaço na região da picada são reações normais e pode acontecer de uma picada na ponta do dedo inchar toda a mão. Contudo, se o inchaço e vermelhidão se espalharem pelo corpo, se sobrevier a dificuldade de respiração, a vítima deve ser levada imediatamente para atendimento médico.
  • Pessoas sabidamente sensíveis ao veneno de abelhas e vespas devem evitar se expor desnecessariamente ao risco de serem ferroadas e ainda procurar um médico alergologista (“alergista”) para se informar sobre a possibilidade de levarem medicamentos que possam atenuar os sintomas de eventuais ataques.

  Atenção e Boas escaladas!!!

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